Por Leandro Gouveia
e Julia Galvão*
— São Paulo
09/03/2024 06h00 Atualizado há 51 minutos
Quatro criminosos entraram em uma loja de celulares dentro de um shopping em São Paulo. Ao verem dois seguranças se aproximando, eles fugiram levando os aparelhos. Os vigilantes, cada um em um veículo de duas rodas, passaram a perseguir os quatro pelos corredores e pelo estacionamento do centro comercial.
Toda a ação foi filmada e transmitida em tempo real para a central de monitoramento pelas câmeras acopladas no uniforme dos seguranças.
"Cada um foi para um lado, nós conseguimos abordar um deles. Por uma estratégia de inteligência interna, conseguiram descobrir os outros três, e eles também foram detidos".
Quem conta é o porta-voz da empresa de segurança Verzani & Sandrini, que presta serviço para o shopping center, Renato Rosseto:
"Como tinha toda a sequência das imagens gravadas, serviram inclusive de prova para autoridade policial realizar o indiciamento, para não dizer que não eram as pessoas que estavam roubando a loja", afirma.
Enquanto são motivo de amplo debate na esfera da segurança pública, as câmeras corporais também vêm ganhando adesão na iniciativa privada.
Segurança usa câmera corporal em shopping — Foto: Divulgação/Verzani & Sandrini
A empresa de segurança Verzani & Sandrini diz que a procura tem crescido 20% ao ano. Atualmente, 30% a 40% dos clientes usam os equipamentos:
"Nós temos bodycams em grandes centros comerciais, em shopping centers, indústrias, ali no trabalho de abordagem nas portarias, revista de veículos, quando é necessário. Hospitais principalmente em áreas de eventuais tensões, tipo pronto-socorro, pronto-atendimento. Centros logísticos também numa eventual revista de carga, de porta-mala, então a gente usa isso como registro", explica.
Dentro de supermercados
Em novembro do ano passado, o grupo Carrefour concluiu a implantação de 4 mil câmeras nos uniformes de 6 mil fiscais próprios e seguranças terceirizados. De julho a dezembro, os incidentes caíram 30% nas 150 lojas testadas.
Funcionários do grupo Carrefour usam câmeras corporais — Foto: Arquivo Carrefour
O diretor-executivo de Transformação do Carrefour, Marcelo Tardin, diz que as imagens e áudios ajudam a solucionar principalmente discussões entre funcionários e clientes:
"Um cliente que reclamou com o diretor de loja que o colaborador foi rude ou o xingou, por exemplo. Esse é um dos casos comuns de discordância verbal. A gente consegue ouvir imagem e som e perceber quem começou a agressão, quem subiu o tom de voz, quem xingou quem primeiro", explica.
A partir da análise das imagens, a empresa toma atitudes que podem passar pela reciclagem dos funcionários ou até a demissão, nos casos mais extremos.
O registro também pode proteger o trabalhador. Recentemente um grupo de jovens estacionou o carro em uma vaga reservada para idosos em uma loja do Carrefour em São Paulo.
Depois de serem orientados por um segurança, os clientes tiraram o veículo, mas durante toda a abordagem foram desrespeitosos e ainda registraram queixa com a gerência na tentativa de intimidá-lo.
Por meio das gravações, ficou evidente que o profissional agiu dentro das normas e foi vítima do grupo.
Prós e contras
A segurança Márcia de Brito Galvão, que trabalha como vigilante em um banco, concorda que as câmeras podem ajudar a proteger o próprio profissional:
"Algumas vezes somos questionados sobre a nossa forma de tratamento e muitas outras coisas. Falam que fomos mal-educados, que deixamos de ser profissionais. São várias situações que ocorrem, então seria um ponto positivo na área da segurança até para a nossa defesa", afirma.
Já o segurança Márcio Santos, na área desde 2016, teme uma possível falta de privacidade:
"Tira muito a privacidade da gente, então eu acho desnecessária a câmera. Mas, se for, tem que usar, infelizmente", lamenta.
As empresas realmente têm o direito de determinar o uso dos equipamentos pelos funcionários, como parte do uniforme.
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