Pais de filhos com transtorno do espectro autista (TEA) reclamam que não estão recebendo remédios da Fundação Municipal de Saúde (FMS) há mais de um ano. Segundo Sheila Menezes, que possui dois filhos que precisam da medicação de uso contínuo, os remédios não estão disponíveis nos locais de distribuição. Em nota, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) informou que existem dois processos de compra de medicação controlada em andamento.
“São anticonvulsivos, remédios mesmo para ansiedade, então esses medicamentos para a gente eram ofertados no Caps e nos postinhos, e eu não estou encontrando nem no Caps nem no postinho”, diz.
Já Maria do Desterro é mãe de Anderson, de 29 anos, que além do TEA, também possui microcefalia. Ela ressalta que a falta de medicações pode gerar crises convulsivas no filho.
“Eu não posso ficar sem a medicação dele, que ele toma três vezes ao dia, porque se ele ficar sem essa medicação, dá crise convulsiva e é fatal, e eu não posso ficar sem medicação. A maior dificuldade é que eu tenho que tirar do meu orçamento que só dá conta, eu não trabalho, só o meu marido. Não tem nas UBS, e há mais de sete meses eu não recebo nos Caps”, comenta.
O neuropediatra Ricello Lima comenta que as medicações não são capazes de reverter o caso clínico desses pacientes, mas ajudam a melhorar os sintomas.
“A gente consegue a redução das estereotipias, que são aquelas manias de repetição que os autistas têm, e outra coisa importante é a redução da agressividade, irritabilidade e da hiperatividade. Algumas crianças também têm distúrbios do sono; elas têm grande dificuldade tanto em pegar no sono quanto em manter o sono. Os medicamentos são importantes também para isso, e outro ponto importante que a gente coloca é que algumas crianças que têm o transtorno do espectro do autismo também podem ter crises convulsivas e, através dos medicamentos, a gente consegue o controle dessas crises convulsivas”, explica.
Além disso, os pais relatam ainda que a Associação Amigos dos Autistas do Piauí (AMA) está há cinco meses sem receber recursos para custear tratamentos médicos dos assistidos pelo projeto.
“A prefeitura faz um repasse para a AMA para pagar o médico, o neurologista, mas ela já está com cinco meses com esse repasse atrasado e o médico sem poder atender para dar receita, exame e tudo”, acrescentou Maria do Desterro.
O médico Ricello Lima destaca que a interrupção do tratamento pode ser prejudicial no desenvolvimento da criança ou adolescente.
“A dificuldade no acesso ao especialista pode trazer consequências importantes, como por exemplo, o atraso no diagnóstico precoce, a dificuldade do acesso às terapias, e outra coisa também prejudicial é a dificuldade e o prejuízo para as consultas de segmento clínico, já que a gente tem mais ou menos uma regra que nós devemos avaliar essas crianças a cada quatro a seis meses”, complementa.
Quem acompanha diariamente faz um apelo para os órgãos públicos.
“Um apelo que eu faço para a prefeitura é que olhe para a gente e veja que a gente precisa desses medicamentos. São medicamentos de uso contínuo, então não pode parar o tratamento, porque se parar, é pior, retarda o tratamento e eles ficam regredindo”, desabafa Sheila Menezes.
Em nota, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) informou que existem dois processos de compra de medicação controlada em andamento, um é licitação e outro é compra emergencial. A FMS garantiu ainda que está em contato com fornecedores para resolver essa situação o mais rápido possível.
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