Por Rayssa Cerdeira, CBN, com O Globo e Valor
12/12/2023 06h00 Atualizado há uma hora
O G20 inclui as maiores economias do mundo, que representam cerca de 85% do Produto Interno Bruto global, mais de 75% do comércio mundial e cerca de dois terços da população do planeta. O grupo é formado por 19 países (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia), além da União Europeia e da União Africana, que aderiu permanentemente o bloco em 2023.
O G20 não possui um "corpo de funcionários" permanente, assim como o FMI ou o Banco Mundial. A presidência é rotativa entre os membros e muda a cada ano. O Brasil é o presidente desde 1º de dezembro e ocupada o cargo até 30 de novembro de 2024.
O país tem como principais desafios reinserir o país na arena internacional e pautar o debate com as principais bandeiras do governo Lula: o combate à fome e à pobreza, o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global, para incluir mais países emergentes.
Alguns assuntos, como o combate à fome, à desigualdade e às mudanças climáticas são considerados "mais tangíveis", mas discussões à respeito da governança global podem gerar desavenças.
Uma das estratégias do Brasil tem sido criar um ambiente que evidencie as falhas no modelo atual. No vídeo que marcou o início da presidência do país no G20, Lula criticou a atual forma de governança global e ressaltou a importância da transição energética e do combate à extrema pobreza.
"Para o Brasil, assumir a presidência do G20, é mais do que uma honra, é um compromisso. Compromisso de colocar o combate à fome, à extrema pobreza e a desigualdade no centro da agenda internacional. Compromisso de convencer os países ricos que não existem dois planetas Terra, que é urgente enfrentar com determinação a crise climática. O nosso terceiro compromisso é engajar o G20 na luta do Brasil por uma nova governança global. Não é possível que as organizações financeiras criadas há quase 80 anos continuem funcionando com os meus paradigmas, sem levar em conta as mudanças estruturais do século XXI", afirmou o presidente.
O G20 Social
Uma novidade da presidência brasileira é o G20 Social - um espaço de participação e contribuição da sociedade civil na formulação de políticas relacionadas à cúpula. À CBN, o ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência da República, responsável pela interlocução do governo com a sociedade civil e movimentos sociais, disse que o objetivo é incluir a participação da população dos países membros nos debates.
"É uma espécie de uma terceira trilha o G20 social, que tem como objetivo central possibilitar que as populações das 20 economias mais potentes do mundo possam participar do processo de deliberação, de debate e deliberação do agrupamento G20. Então esse debate vai se dar durante todo o ano e que possa, ao fim e ao cabo, a sociedade civil organizada poder contribuir para que o G20 social possa se tornar um legado da presidência do Brasil para o mundo", explicou o ministro.
Primeiras reuniões
Já dando início à agenda de trabalhos, esta semana, de 11 a 15 de novembro, o Palácio do Itamaraty recebe as primeiras reuniões para organizar as faixas de atuação. Uma delas é a Trilha de Sherpas - os representares pessoais dos líderes do G20, que vão supervisionar as negociações, discutir pontos da agenda internacional e coordenar a maior parte do trabalho. Eles são chamados assim por causa dos sherpas, etnia do Nepal que guia alpinistas que querem chegar ao topo do Everest. No G20, os sherpas guiam as discussões e os acordos até a cúpula final com chefes de Estado e de governo. O sherpa do Brasil é o embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty.
A outra faixa de atuação é a Trilha de Finanças, comandada pelos ministros da Fazenda e presidentes dos Bancos Centrais, para discutir assuntos macroeconômicos estratégicos. O ministro Fernando Haddad já afirmou que o Brasil vai propor uma "reglobalização sustentável" durante a presidência do G20.
"Nós estamos propondo que o Brasil lidere uma espécie de reglobalização sustentável, do ponto de vista social e do ponto de vista ambiental. Não temos que temer a globalização. Ela foi feita de forma equivocada, por isso trouxe tantas angústias, sobretudo no seu ápice, que foi a crise de 2008 e os seus desdobramento", afirmou Haddad.
Calendário 2024
As reuniões mais importantes já têm data marcadda: nos dias 21 e 22 de fevereiro do ano que vem acontecerá a primeira reunião ministerial da Trilha de Sherpas, no Rio. O encontro será coordenado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Um semana depois, São Paulo sediará a reunião ministerial da Trilha de Finanças. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é o responsável pela coordenação do evento.
A Cúpula de Líderes do G20 está agendada para os dias 18 e 19 de novembro de 2024, no Rio. Essa cúpula representa a conclusão dos trabalhos - é o momento em que os chefes de Estado e de governo aprovam os acordos negociados ao longo do ano e apontam os caminhos e as possíveis soluções para os desafios globais.
O governo brasileiro espera ao final da gestão deixar como marca contribuições inéditas e concretas.
A presença de Putin
A presença do presidente da Rússia no G20 é dúvida e pode gerar polêmica. Vladmir Putin é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional pela acusação de deportação forçada de crianças ucranianas. O mandado fez com que o presidente russo desistisse, por exemplo, de comparecer à reunião dos Brics na África do Sul, em agosto deste ano. Embora tenha sido convidado, o mandado de prisão por crimes de guerra obriga, em tese, as autoridades do país africano a prendê-lo - já que a África do Sul é signatária do Tribunal.
Depois de dizer que Putin poderia vir ao Brasil para a cúpula do G20 sem risco de ser preso, o presidente Lula recuou e disse que o convite está mantido, mas que há consequências. Lula afirmou que não cabe ao presidente da república julgar, mas cumprir decisão judicial.
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