A temporada do Santos em 2023 tem sido marcada por fracassos em série dentro e fora de campo. O clube luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, registra sua pior pontuação nesta altura da competição e vem de uma pancada, a goleada histórica de 7 a 1 sofrida em duelo com o Internacional.
Foto: Raul Baretta/ Santos FC
O ano trágico para a equipe do litoral já teve eliminações precoces no Campeonato Paulista e na Copa Sul-Americana, com quedas ainda na fase de grupos. Na Copa do Brasil, o time parou nas oitavas de final, nos pênaltis, contra o Bahia.
Foram três técnicos desde janeiro, fora os interinos, caso do atual comandante, Marcelo Fernandes. A dívida, alta, é agravada por causa da falta de premiações. Não parece exagero apontar que se trata da pior fase da história centenária do alvinegro praiano.
No Campeonato Brasileiro, faltando dez para o término do torneio, a formação alvinegra está na 18ª posição, com 30 pontos, um a menos do que o Goiás, o primeiro fora da zona de rebaixamento.
É a menor pontuação do time da Vila Belmiro após 28 rodadas desde 2006, quando o Brasileiro adotou o formato atual de pontos corridos com 20 times.
A derrota por 7 a 1 para o Internacional igualou a pior do clube no torneio. Em 2005, a equipe praiana sucumbiu pelo mesmo placar diante do Corinthians. O revés mais recente aumentou o risco rebaixamento de 37,1% para 50,3%, de acordo com matemáticos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Segundo Guilherme Nascimento, pesquisador da Assophis (Associação dos Pesquisadores e Historiadores do Santos FC), a fase do alvinegro praiano é a pior de sua história centenária.
O único momento que pode ser comparado ao atual, apontou Nascimento, já tem cem anos, quando o clube ainda estava na era do amadorismo e passou por maus bocados no Paulista de 1921 a 1923.
Àquela altura, no entanto, o clube ainda não tinha se estabelecido como força do futebol e era considerado mediano. Em 2023, a situação é outra, com a equipe tendo conquistado troféus importantes e revelado uma legião de craques ao longo das décadas.
"O Santos é hoje um time de dimensões internacionais e passou por essa tragédia [a goleada contra o Internacional] às vésperas do aniversário do Pelé", afirmou Nascimento. O Rei, que morreu em dezembro do ano passado aos 82 anos, nasceu em um 23 de outubro.
O ex-jogador Robert, campeão brasileiro com o Santos em 2002, também acha que o time se encontra em uma situação nunca vista antes. "O que tem acontecido com o futebol do clube é lamentável sob todos os aspectos."
O ex-atleta fez duras críticas às últimas gestões que comandaram o clube, incluída a atual, de Andres Rueda. Faltam critério e planejamento na contratação de jogadores e treinadores, seja nas categorias de base ou no elenco profissional, afirmou.
Desde que Rueda assumiu o clube, em 2021, oito técnicos já passaram pelo banco de reservas. O último foi o uruguaio Diego Aguirre, que saiu após somente cinco partidas. "Hoje, o Santos é um navio à deriva", declarou Robert.
Alvinegro enfrenta desafios dentro e fora de campo
O último balanço financeiro indica que não é apenas dentro das quatro linhas que a equipe praiana tem sofrido com a má administração.
O balancete referente ao segundo trimestre de 2023 mostrou que o clube somava uma dívida de aproximadamente R$ 700 milhões em junho, após apresentar um deficit de R$ 10,2 milhões no período.
O último título foi o Paulista de 2016. E a falta de títulos uma das principais fontes de receita, com as respectivas premiações impede que o clube consiga elaborar um plano para equacionar as dívidas.
No estadual deste ano, por exemplo, a previsão era de arrecadação de R$ 1,6 milhão, com classificação às finais. A queda precoce, com a 11ª colocação, rendeu aos cofres apenas R$ 180 mil.
Armênio Neto, que gerenciou o departamento de marketing do Santos entre 2010 e 2013, diz que buscar o apoio da torcida será fundamental na briga contra o rebaixamento. "Será necessário empurrar o time nessas rodadas que faltam", afirmou.
Ações de engajamento nas redes sociais e motivacionais para animar os atletas são apontadas entre as estratégias que podem ser utilizadas.
Os ingressos para a próxima partida na Vila Belmiro na quinta-feira (26), em briga direta para escapar da zona da degola contra o Coritiba, 19º colocado na tabela, já estão esgotados. Nesta terça (24), torcedores organizados foram ao CT Rei Pelé conversar com jogadores.
Segundos os próprios, manifestaram revolta, mas prometeram apoio na arquibancada.
A temporada teve ainda problemas fora de campo. No mês passado, Paulo Roberto Falcão pediu demissão do cargo de coordenador de futebol após virem à tona denúncias de importunação sexual de uma funcionária do hotel onde o ex-jogador estava hospedado.
Na última sexta-feira (20), a Justiça decidiu arquivar o inquérito por falta de provas.
No fim de junho, o clube já havia rescindido o contrato com o zagueiro Eduardo Bauermann, um dos líderes do elenco, suspenso pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) por envolvimento em esquema de manipulação de resultados.
O Santos vai passar por eleições em dezembro. Transformar o clube em uma SAF (Sociedade Anônima de Futebol) e aumentar a arrecadação estão entre os planos dos candidatos.
Advogado especializado em direito desportivo, Eduardo Carlezzo disse que a transformação do clube em uma SAF pode ajudar no ajuste das contas. Para isso, contudo, será preciso abrir mão do controle da agremiação.
"Não existem investidores interessados em despejar uma quantidade significativa de dinheiro sem que possam mandar no clube". No entanto, caso o clube seja rebaixado, conseguir atrair quem financie a operação no montante desejado pode se tornar uma missão mais difícil.
Na busca por novas fontes de receita, a atual gestão anunciou recentemente os planos para levantar um novo estádio.
No fim de setembro, o Santos firmou um contrato com a WTorre para a reconstrução da Vila Belmiro. A previsão é que as obras tenham início no início de 2024, com orçamento previsto de R$ 300 milhões.
A confirmação do projeto vai depender do resultado das eleições e do desempenho do time. Uma queda para a segunda divisão pode causar uma reviravolta nos planos, uma vez que nesse caso o clube terá de se adequar a uma nova realidade financeira na Série B.
Se o plano sair do papel, a formação praiana deverá, durante as obras, realizar suas partidas no Pacaembu, cuja reinauguração está prevista para o início do ano que vem.
Com isso, o alvinegro ficaria por algum tempo sem contar com o apoio da torcida no caldeirão da Vila, seja para mais uma disputa da Série A ou para a tentativa de deixar a segunda divisão.
Por enquanto, ao lado de São Paulo e Flamengo, o Santos é um dos três times hoje na Série A do Campeonato Brasileiro que nunca foram rebaixados para a segunda divisão.
LUCAS BOMBANA E KLAUS RICHMOND
SÃO PAULO, SP, E SANTOS, SP (FOLHAPRESS)
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