Por Yala Sena
Parece que o tempo parou para eles, olhando as imagens acima. E parou mesmo, de alguma forma. Isolada, a comunidade Pindobal, que fica em plena zona Leste de Teresina, as famílias de remanescentes quilombolas e de indígenas vivem como na “era primitiva” sem água potável, energia elétrica, internet, saneamento básico e alguns moradores não têm sequer registro de nascimento, ou seja, não existem para as instituições públicas.
Primeira equipe de TV e portal a visitar os moradores, a comunidade impressiona pela ausência de tudo. Na região do Socopo, o acesso é pela estrada da Cacimba Velha. Lá moram cerca de 15 famílias, 50 pessoas, algumas delas criança que vivem invisíveis na maior cidade do estado.
O trecho de acesso à comunidade é de estrada de areal, em caminho estreito. Assim que a equipe da TV e do portal entrou, demos de cara com seu Raimundo Chagas do Nascimento, que levava várias garrafas de água seca em uma bicicleta. Ele, que não sabia sua idade e nos disse que tinha “60 e poucos anos”, estava andando a cerca de 1 km para buscar água para o consumo humano. As garrafas de águas seriam abastecidas em uma torneira de um morador que fica na entrada da comunidade.
“A nossa rotina é essa de todo dia, buscar água para beber. É uma situação difícil”, disse Raimundo das Chagas que mora há 20 anos no local.
Gente ruim aqui não entra
O morador mais antigo da comunidade, Raimundo Nonato Soares de Sousa, 88 anos, conhecido como seu Pintobal, faz apelo as autoridades para levar água e energia para o local.
“Precisamos de casa boa, água boa, luz, ajeitar a estrada. Gente ruim não entra aqui. Aquele negócio (se referindo a drogas) não quero aqui”, disse seu Pintobal, que mora há mais de 40 anos no local com a mulher e os 12 filhos.
Mesmo com a dificuldade, seu Pintobal, declara seu amor pela comunidade.
“Tem homem que se apaixona pela mulher, pois do mesmo jeito sou eu por esse lugar. Sou apaixonado por essa terra. Meu sonho é que aqui fique melhor, que tenhamos nossa terra e que a gente viva em paz”, disse.
As casas da comunidade são de taipa coberta com palha, algumas de telha e de chão batido. As famílias fazem farinhada, quebra coco para fazer azeite, e plantam milho, macaxeira, arroz, feijão e hortaliça. Como a maioria é da mesma família, eles fazem troca de produto numa espécie de escambo.
Para o consumo humano, as famílias caminham mais de 1km para buscar água, mas para tomar banho, lavar as louças e os alimentos eles usam uma água esverdeada sem nenhuma qualidade de um poço.
Maria da Conceição Sousa, Toinha, de 42 anos, se emocionou ao falar da dificuldade da comunidade. Ele também faz apelo para o abastecimento de água.
A Interpi informou que fará o mapeamento da comunidade para que a área receba benefícios.
Regularização da terra
Desde que publicou um vídeo em sua rede social sobre a comunidade, o professor Geraldo Jarques Pereira Filho, o Geraldim, vem ajudando as famílias. Ele tenta a regularização da terra e melhorias para eles.
“As famílias são castigadas em situação sub humana e estamos em pleno século 21 e não conseguiu resolver. Eles não pedem nada de mais, eles só querem água e luz e uma vida digna”, disse Geraldo que integra a ONG da Associação da Juventude do estado do Piauí.
Prefeitura se manifesta
A comunidade está localizada em uma área particular, é uma propriedade privada, onde a prefeitura não possui autorização do proprietário para implementar ações. Trata-se de um conjunto de residências situadas na zona Rural, próximo à região de Socopo, ainda que na fronteira entre as áreas urbana e rural.
Em questões relacionadas ao abastecimento de água, é recomendado que entre em contato com a Agespisa, por se tratar de área privada, para que sejam tomadas as medidas necessárias.
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