Foto: arquivo Cidadeverde.com
A Polícia Civil do Piauí começou a desarticular um grupo criminoso suspeito de dar um golpe milionário em um banco. Para conseguir a liberação de crédito, os criminosos alegavam ser médico, engenheiro e jogador de futebol e movimentavam, entre si, altos valores. Uma das investigadas, por exemplo, tem 19 anos e alegou ser médica obstetra, o que aumentou a desconfiança do banco, pois ela teria que ter iniciado o curso de Medicina aos dez anos. Mesmo com a nítida mentira, ela- que ainda não foi presa- teria dito que "começou muito cedo".
A fraude era realizada por meio do aplicativo bancário e consistia em enganar a instituição financeira. A falsa médica obstetra só foi descoberta quando o banco solicitou a presença na agência.
"Um deles alegava ter uma renda de R$ 30 mil na abertura de conta. Dali a dois, três dias, ele receberia uma transferência com esse valor para que a análise do banco fosse levada a crer que realmente havia uma renda legítima ali. E o banco ia aumentando o limite. Quando a organização criminosa acreditava que se tinha atingido o máximo de crédito que o banco poderia fornecer, eles faziam o que a gente chama de tombar o banco: sacavam todos os valores de forma eletrônica também", explica o delegado Anchieta Nery, diretor de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI).
A investigação apontou que parte dos valores obtidos na fraude eram ocultados por meio de empresas fantasmas. Ao todo, 30 pessoas foram presas e identificados quatro núcleos com líderes próprios. O diretor de Inteligência da SSP-PI explica que foram detectadas 117 clientes que operaram contas fraudulentas e que serão investigados. Foram analisadas 3 mil transações, entre final de 2021 a início de 2023, após a diretoria de segurança do banco detectar uma série de eventuais incongruências que podiam apontar para uma fraude.
Foto: divulgação SSP-PI
O delegado Matheus Zanatta, superintendente de Operações Integradas da SSSP-PI, acrescenta que foram apreendidos vários carros de luxo e até uma moto aquática.
"Fizemos também o bloqueio ativo financeiro das contas dos investigados, tudo isso para tentar restituir a vítima, o banco, que teve um prejuízo no Piauí de R$ 5 milhões, e no Brasil, de R$ 19 milhões", disse Zanatta.
Foto: divulgação SSP-PI
A investigação apontou que o vendedor de celular Anderson Ranchel iniciou a modalidade criminosa no Piauí e passou a cooptar os demais membros, sendo que alguns, após descobrirem como funcionava o esquema de enganar o algoritmo do banco, passaram a agir por conta própria. Em menos de dois anos, o comerciante viajou aos Estados Unidos dez vezes.
O GRUPO ERA DIVIDIDO EM:
- LÍDERES
- OPERADORES FINANCEIROS
- CLIENTES (PESSOAS QUE TOPAVAM PEGAR EMPRÉSTIMO DE FORMA FRAUDULENTA, APRESENTANDO RENDA E PROFISSÃO QUE NUNCA TIVERAM, PARA RECEBER CRÉDITO E 'TOMBAR O BANCO')
"Começou com um líder aqui no Piauí, aprendendo sobre isso em grupos de criminosos na internet, descobrindo como enganar o algorítimo que julga o motor de crédito do banco. E aí ele então foi às ruas em Teresina, Floriano, Amarante, cooptar clientes, pessoas interessadas em prestar seu nome para fraudar o banco. Geralmente, ele achava jovens com interesse num ganho de dinheiro fácil e esses jovens inseriram informações falsas ao abrir uma conta-corrente no banco de maneira virtual por meio do aplicativo", explica Nery.
O recrutamento desses jovens era feito por meio de banners digitais e, principalmente, através do "boca a boca".
Foto: Renato Andrade/ Cidadeverde.com
"Esses jovens inseriram informações falsas ao abrir uma conta-corrente no banco, de maneira virtual, por meio do aplicativo. Por exemplo, jovens, às vezes, de dezenove anos se apresentando como médico já com residência. E formava uma renda declarada de R$ 25 mil e faziam ali todo um jogo de movimentação financeira dentro dessa conta, a partir de transferência de outras contas capitaneadas pela organização criminosa, para que o banco entendesse que havia ali uma movimentação legítima e aumentar o escore daquele suposto cliente.Se um deles recebia o valor e sabia de alguém que podia se interessar, já indicava. São 117 clientes no Piauí com valores de R$ 30 mil e até R$ 150 mil", completa o delegado.
O prejuízo levantado até o momento é de R$ 19 milhões à instituição financeira. Desse valor, R$ 6 milhões são relacionados a fraudes praticadas em contas bancárias de agências localizadas no Piauí.
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