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Durante a graduação, a psicóloga Maria Rita Alves Dalledone, 31, viu sua área mudar da água para o vinho, ou melhor, da clínica para o Zoom. Recém-formada em psicologia, ela atende 80% dos pacientes de forma online, além de sua própria terapia também ser feita de forma remota.
A curitibana ilustra um movimento que ganhou força com o isolamento social, e não deve parar. Segundo o CensoPsi de 2022, que avalia o perfil do psicólogo no Brasil, o número de profissionais que utilizam TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), o que inclui atender por vídeo, saltou de 34% para 78% com a crise sanitária.
A publicitária Ana Clara Ribeiro Expedito, 24, começou a fazer psicoterapia à distância durante a pandemia após crises de ansiedade desencadeadas pela preocupação com a saúde de seus familiares, e, depois disso, nunca mais parou.
"Gosto da modalidade porque faço a sessão onde me sinto confortável, isso é ótimo", diz.
Conforto, economia e praticidade são alguns dos benefícios apontados por quem adere à modalidade online. Além dos ganhos logísticos, existem ainda pesquisas que asseguram sua eficácia.
Especialistas afirmam que a prática, apesar de confiável, não é indicada para todos.
Apesar de acelerada pela pandemia de coronavírus, a psicoterapia remota é debatida há décadas. Em 1995, uma resolução do CFP (Conselho Federal de Psicologia) vedou qualquer prática por telefone e, em 2000, autorizou o atendimento não presencial exclusivamente para pesquisas científicas.
E foi nessa toada de estudos que a terapia online se mostrou eficaz no Brasil e no mundo. Um deles, publicado na revista CyberPsicologhy & Behavior em 2004, mostrou que, à distância, algumas pessoas poderiam ser mais honestas e desinibidas, beneficiando o vínculo terapêutico.
No ano seguinte à publicação da pesquisa, o CFP emitiu uma nova resolução, argumentando que os efeitos do atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador ainda não eram suficientemente conhecidos, podendo trazer riscos aos usuários.
Um novo marco veio em 2012, quando autorizou o atendimento online para orientação psicológica (mas não ainda para psicoterapia), e limitado a 20 sessões por cliente. Apenas em 2018 o órgão regulamentou a prestação de serviços psicológicos por TICs. Para atender online, o profissional deveria estar devidamente cadastrado no Conselho e em uma plataforma específica para psicólogos que clinicam virtualmente, o e-Psi.
Com a pandemia, a prática, que costumava ser uma exceção, virou regra para muitos. Além de o momento demandar o tratamento à distância, mais pessoas olharam para a saúde mental em meio a incertezas, os riscos e o isolamento. Entre novembro de 2018 e fevereiro de 2020, 30.677 profissionais se inscreveram na e-Psi. Já, em 2020, só nos dois primeiros meses da pandemia (março e abril) 39.510 novos registros foram autorizados.
Quando a crise arrefeceu, muita gente já estava acostumada ao ambiente virtual e seus benefícios, diz a psicóloga Thaise Löhr Tacla, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
A professora afirma, entretanto, que a terapia online é segura, mas não para qualquer situação. O CFP a considera inadequada para pacientes em condições de urgência e emergência (com risco de suicídio, por exemplo), violação de direitos ou violência.
"Uma mulher vulnerável a um marido agressivo não vai se sentir à vontade fazendo terapia em casa, e pode até estar em risco durante as sessões. A gente não sabe o nível de controle que o abusador exerce ali", exemplifica Tacla.
LÍVIA INÁCIO
FOLHAPRESS
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