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O último mês de junho registrou a primeira deflação do ano e a menor taxa para o mês desde 2017. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) teve redução de 0,08% em junho. A queda nos preços dos transportes e dos alimentos foi o que mais contribuiu para a diminuição. Com esse número, a inflação acumulada em 12 meses é de 3,16%, dentro da meta para o ano.
Números que animaram o mercado para uma esperada redução na taxa básica de juros, que hoje está em 13,75%,a maior taxa de juros reais do mundo.
Por que isso importa
O IPCA é um dos principais índices usados pelo Banco Central para decidir os rumos da taxa de juros Selic. Quando os preços aumentam, os juros também tendem a subir para deixar o dinheiro "mais caro" e segurar a inflação. O patamar elevado dos juros tem travado o crédito e causado um aumento nas recuperações judiciais. O endividamento já atinge 78% das famílias brasileiras, cenário que forçou o governo a lançar um programa de renegociação de dívidas, o Desenrola. Em entrevista ao Poder Expresso, o economista César Bergo apontou que o programa é necessário.
"Eu, particularmente, não sou favorável a esse tipo de programa que privilegia o mau pagador. Mas a gente tem que pensar que o país passou por uma pandemia. Muitas pessoas se endividaram sem querer se endividar. Realmente, 80% das famílias estão inadimplentes e não conseguem mais pagar. É necessário que se faça esse programa de forma extraordinária. Não é para todo ano e muitas vezes, mas em função das questões que vivemos hoje", disse o economista.
Agora vai?
É quase unanimidade entre especialistas que, na próxima reunião no dia 2 de agosto, o Copom deve reduzir os juros em, pelo menos, 0,25 ponto percentual. O governo quer mais: pressiona por uma queda de 0,5 ponto percentual, especialmente depois da rápida aprovação da Reforma Tributária no Congresso. A última ata do Comitê de Política Monetária trouxe divergências, mas mostrou que o Banco Central já considera o corte. Até mesmo o próprio presidente, Roberto Campos Neto, admitiu uma "porta aberta" para a redução.
"Se formos analisar as decisões do Copom das últimas reuniões, eu acredito que não está muito afeto a pressões, pelo contrário", disse o economista César Bergo. "Não tenha dúvida que a deflação do mês de junho vai contribuir sim para uma decisão equilibrada do Banco Centra, que já na última ata demonstrou não estar em uníssono."
Por que a taxa permanece alta
A taxa de juros do Brasil é a maior do mundo. Os defensores do corte apontam que os índices atuais não significam uma inflação de "demanda", ou seja, os preços não aumentam devido ao consumo e, sim, como reflexos tardios de outros fatores - pandemia, guerra na ucrânia, política errática do governo anterior. Já os defensores do aperto monetário argumentam que o Brasil está hoje em posição privilegiada - inflação menor que países desenvolvidos - exatamente pela política restritiva do Banco Central.
Política x Economia
O presidente Lula tem reclamado insistentemente de Campos Neto em seus discursos, seja nas lives Conversa com o Presidente, seja em cerimônias públicas. Recentemente Lula rotulou o presidente do Banco Central de "tinhoso" e "teimoso". Campos Neto foi indicado ao BC por Jair Bolsonaro. Entretanto, como o Banco Central ganhou a autonomia, resta ao governo as críticas e as sinalizações para um futuro estável da economia, como a discussão das novas regras fiscais. O economista César Bergo afirma que Lula "não está errado" em criticar, já que a taxa é alta, mas que a forma como Lula ataca pode causar efeito oposto.
"Uma vez que ele critica, ele pode ter um efeito reverso, porque os juros futuros acabam subindo e aí o Banco Central pode decidir por não baixar a taxa, porque você tem as expectativas alteradas", considera o economista César Bergo.
De qualquer maneira, até mesmo ministros mais contidos, como Tebet e Alckmin, têm seguido Lula nas críticas e consideram que não há mais motivos para manter os juros no atual patamar. A ver na próxima reunião do Copom, a primeira depois da aprovação dos indicados por Lula a diretorias do Banco Central, Ailton Aquino e Gabriel Galípolo, um dos cotados para ser o próximo presidente do BC.
Fonte: SBT News
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