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2 de ago. de 2022

Coreia do Sul lança sua primeira missão à Lua em nova onda de exploração espacial

 Foto: Kari/Divulgação 

Se tudo correr bem, a primeira missão sul-coreana à Lua deve partir nesta quinta-feira (4), inaugurando o que promete ser uma nova era de exploração lunar, em que múltiplos países e empresas passam a ter interesses no satélite natural da Terra.

Mais conhecida pela sigla KPLO (Korean Pathfinder Lunar Orbiter, ou Orbitador Lunar Desbravador da Coreia), a espaçonave será despachada em seu caminho por um foguete Falcon 9, da SpaceX, a ser lançado da plataforma 40 da Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida. A decolagem está marcada para as 20h08 (de Brasília).

Sua missão primária, como o nome sugere, é abrir caminhos para futura exploração lunar por parte dos sul-coreanos. Trata-se da primeira missão de espaço profundo a ser conduzida por aquele país. O aspecto pioneiro e desbravador do projeto também é representado pelo nome popular dado ao orbitador: Danuri, uma combinação das palavras "dal" e "nurida" em coreano, que significam algo como "aproveite a Lua".

Ainda assim, não quer dizer que o KPLO não tenha potencial para fazer ciência de qualidade. "A ideia básica dessa missão é desenvolvimento e demonstração tecnológicos", explica Eunhyeuk Kim, pesquisador do Kari (Instituto de Pesquisa Aeroespacial da Coreia, algo como a Nasa dos sul-coreanos). "Também, usando os instrumentos científicos, estamos esperando obter dados úteis da superfície lunar."

De olho nas sombras A espaçonave, com seus 678 kg, tem seis instrumentos a bordo, cinco desenvolvidos na Coreia do Sul e um nos Estados Unidos. O americano, conhecido como ShadowCam, é uma nova versão da câmera principal do Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO), orbitador lunar americano que está operando desde 2009.

Só que, enquanto a original foi projetada para fotografar as regiões iluminadas da Lua, esta nova câmera está focada em registrar as sombras, com sensibilidade centenas de vezes maior do que é feito com a câmera original do LRO. O plano é observar a pouquíssima luz refletida do interior de crateras localizadas nos polos lunares, onde a luz solar nunca incide diretamente e já foi detectada (por outros meios) a presença de gelo de água.

Trata-se de um recurso natural essencial para o futuro da exploração lunar. Torna-se bem mais complicado manter uma base tripulada tendo de levar da Terra toda a água necessária.

Os demais instrumentos são uma câmera de terreno lunar (Luti), destinada a capturar imagens da superfície com resolução espacial menor que 5 metros por pixel e ajudar a planejar a próxima missão sul-coreana, de pouso; uma câmera polarimétrica de campo amplo (PolCam), que vai capturar luz polarizada de toda a superfície da Lua exceto os polos, a fim de investigar as características do solo lunar; um magnetômetro (Kmag), para medir campos magnéticos ao redor da Lua; e um experimento de comunicação em rede tolerante a atrasos (DTNPL), um esforço para desenvolver um tipo de conexão digital interplanetária mais adequado para futuras missões.

Os trabalhos, contudo, só vão começar para valer depois que o orbitador chegar à Lua e se instalar em sua órbita científica. E isso vai levar algum tempo.
Se conseguir partir como o planejado, no dia 4, ou no máximo até o fim da primeira semana de agosto, o KPLO se instalará na órbita da Lua em 16 de dezembro. Os gerentes da missão optaram por uma trajetória de captura balística -o que equivale a dizer que não será preciso fazer uma manobra propulsada específica para a inserção orbital, a sonda simplesmente "cairá" nos arredores da Lua na velocidade certa para ser capturada pela gravidade lunar e colocada em órbita.

Para realizar esse caminho, a espaçonave será primeiro colocada a caminho do ponto de Lagrange entre a Terra e o Sol, a cerca de 1,5 milhão de km. De lá, o veículo "cairá" de volta na direção da Terra, sendo interceptado pela Lua (a cerca de 390 km da superfície terrestre) no caminho. Após a inserção orbital, os propulsores do KPLO só serão usados para circular a órbita, estabilizando-a em uma altitude de cerca de 100 km da superfície lunar, lá pelo fim do ano. A isso se segue um mês de testes e comissionamento da instrumentação, com início das operações científicas esperado para começar em fevereiro de 2023. Dependendo da eficiência das manobras e da disponibilidade de combustível a bordo, a missão pode ser estendida após 2024.

A espaçonave sul-coreana KPLO será primeiro colocada a caminho do ponto de Lagrange entre a Terra e o Sol, a cerca de 1,5 milhão de km. De lá, o veículo "cairá" de volta na direção da

Terra, sendo interceptado pela Lua (a cerca de 390 km da superfície terrestre). Após a inserção orbital, os propulsores do KPLO só serão usados para circular a órbita, estabilizando-a em uma altitude de cerca de 100 km da superfície lunar Kari/Divulgação A espaçonave sul-coreana KPLO será primeiro colocada a caminho do ponto de Lagrange entre a Terra e o Sol, a cerca de 1,5 milhão de km. De lá, o veículo "cairá" de volta na direção da Terra, sendo interceptado pela Lua (a cerca de 390 km da superfície terrestre).

A missão lunar sul-coreana, com custo estimado em US$ 180 milhões, foi iniciada em 2016 e tinha lançamento originalmente programado para 2020. Com dois anos de atraso, saiu. E muitas outras estão vindo por aí nos próximos meses.

Trânsito para a Lua A nova onda lunar teve um começo tímido em 2022 com o lançamento do cubesat Capstone, da Nasa, feito por um foguete de pequeno porte Electron, em junho. É uma pequena espaçonave com destino à órbita em que a agência espacial americana pretende colocar uma futura estação orbital lunar chamada Gateway.

O grande lançamento lunar da Nasa, contudo, está marcado para o fim deste mês. Em 29 de agosto, se tudo correr bem, deve partir a missão Artemis I, primeiro teste do foguete SLS com a cápsula Orion numa viagem até a Lua. O veículo não terá tripulação para esse voo inaugural, mas será a primeira vez que uma nave destinada a transportar humanos parte na direção da Lua desde a Apollo 17, em 1972. O voo também levará pequenos satélites às imediações da Lua, cubesats fornecidos por EUA, Itália e Japão.

Em seguida, quem promete retomar suas missões lunares após um longo interlúdio é a Rússia. O voo da sonda Luna-25, que retoma a numeração do programa de missões lunares soviéticas, deve partir no fim de setembro –se acontecer. Há dúvidas, após o início da guerra com a Ucrânia.

A empresa japonesa ispace pretende lançar seu módulo de pouso lunar pela primeira vez em novembro. Se de fato voar, ele levará a bordo um pequeno rover dos Emirados Árabes Unidos.

Além disso, duas empresas americanas, Intuitive Machines e Astrobotic, pretendem lançar seus módulos de pouso próprios em missões inaugurais de demonstração. Uma das cargas úteis é o microrrover mexicano Colmena.

Para 2023, além de missões comerciais, há a expectativa de que a Isro, agência espacial indiana, possa lançar sua terceira missão lunar, Chandrayaan-3, e também está na fila a Jaxa, agência espacial japonesa, com seu módulo de pouso Slim. A vizinha China, por sua vez, planeja mais duas missões lunares, Chang'e-6 e 7, para 2024. Mesmo que apenas algumas dessas missões se realizem no prazo projetado, o trânsito daqui para a Lua deve estar bem engarrafado a partir de agora.

 

Missões a caminho da Lua em 2022 e 2023 Capstone (EUA/Nasa)

  • Lançamento: 28 de junho de 2022

Microssatélite para teste orbital
KPLO (Coreia do Sul/Kari)

  • Lançamento: 4 de agosto de 2022

Orbitador de exploração lunar
Artemis I (EUA/Nasa)

  • Lançamento: 29 de agosto de 2022

Teste de espaçonave Orion sem tripulação
Luna-25 (Rússia/Roscosmos)

  • Lançamento: fim de setembro de 2022

Primeiro módulo de pouso lunar russo desde 1976
Hakuto-R M1 (Japão/empresa ispace)

  • Lançamento: não antes de novembro de 2022

Demonstração de módulo de pouso comercial
IM-1 (EUA/empresa Intuitive Machines)

  • Lançamento: 22 de dezembro de 2022

Demonstração de módulo de pouso comercial
Mission One (EUA/Astrobotic)

  • Lançamento: não antes do final de 2022

Demonstração de módulo de pouso comercial
Chandrayaan-3 (Índia/Isro)

  • Lançamento: 2023

Orbitador e módulo de pouso; segunda tentativa indiana de pousar na Lua
Slim (Japão/Jaxa)

  • Lançamento: 2023

Módulo de pouso de precisão japonês

 

Fonte: Folhapress (Salvador Nogueira) 

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