A indígena Txai Suruí atraiu os holofotes do mundo todo em 2021, ao discursar na abertura da COP16, a Conferência do Clima das Nações Unidas, ocorrida em Glasgow, na Escócia. A única brasileira e indígena latino-americana a discursar na abertura do evento apresentou um discurso de impacto ao cobrar ações urgentes para conter os avanços das mudanças climáticas.
Txai é criadora do movimento Juventude Indígena de Rondônia, coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e mais recentemente se tornou jovem conselheira do Pacto Global da ONU. Em todos os lugares que frequenta leva consigo a responsabilidade de defender pautas que julga fundamentais para pensar um outro Brasil, com mais respeito à floresta e aos povos que nela vivem.
Para ela, o Brasil está na contramão das questões de proteção ambiental. "O Brasil prometeu, por exemplo, acabar com o desmatamento até 2028, mas a realidade é outra. Na verdade, os ataques ao meio ambiente têm aumentado. Por isso, acho importantíssimo fortalecer as leis ambientais e os órgãos ambientais do país — o Brasil precisa respeitar os povos originários. É preciso entender a importância dos indígenas quando falamos em cuidar do meio ambiente", disse a jovem de 25 anos, em entrevista para a Ecoa.
Demarcação de terras indígenas
A demarcação de terras é uma das pautas principais do movimento indígena atualmente. Ela explica o porquê.
"Nós temos uma relação diferente com a terra. Faz parte de quem nós somos. O nosso território faz parte da nossa cultura, da nossa construção como comunidade. Uma coisa que está clara é a importância das pessoas para a preservação da floresta hoje. A gente tem que ter um olhar socioambiental. Quando se preserva uma terra indígena, se preserva o meio ambiente", relata.
E acrescenta: "Nossos territórios são as melhores barreiras contra o desmatamento. E demarcar terras vai muito além da preservação. Nós também estamos criando soluções importantes que colocamos em prática dentro dos territórios para recuperar o que foi degradado", destaca em entrevista para a ECOA.
Luta de todos
Filha da indigenista Neidinha Suruí e do cacique Almir Suruí, dois grandes expoentes quando o assunto é defesa dos povos originários e do meio ambiente, Txai acredita que para contornar a crise ambiental será necessário um esforço coletivo de todos os setores da sociedade, inclusive governantes que serão eleitos no fim do ano e o fortalecimento das leis e órgãos ambientais no país.
"Eu acho que eles [governantes] têm que olhar para o meio ambiente. Tem que olhar para as mudanças climáticas como uma pauta suprapartidária. Essa não pode ser pauta de um governo específico, de um candidato específico. Olhar para o meio ambiente vai além de ser de esquerda ou de direita. É qualidade de vida para todo mundo. Os políticos precisam ouvir o povo, escutar as pautas dos povos indígenas, da juventude, das mulheres, dos negros... Escutar o que temos a dizer para construir um país melhor para todos.", destacou.
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