Em menos de um mês, o governo Federal liberou quase R$ 1 bilhão em emendas parlamentares. Coincidência ou não, as emendas passaram a sair das gavetas depois de 17 de maio, quando estourou a delação da JBS, aquela que envolveu o presidente Michel Temer até a alma. Desde então, foram liberados R$ 953,6 milhões, a grande maioria para parlamentares da base aliada.
Quem conhece como funciona o Congresso Nacional e as práticas de presidentes dos últimos 30 anos, sabe de uma velha receita: diante de dificuldades políticas, a saída mais fácil é a liberação de emendas para ter a simpatia dos congressistas. E Temer enfrenta muitas, muitas dificuldades. Daí, é muito provável que essa liberação esteja associada diretamente ao apoio que o presidente tanto necessita especialmente na Câmara.
Não será a primeira vez que Temer utiliza esse artifício. E, convenhamos, não está sendo nem um pouco original.
Ano passado, no desespero de tentar conter o processo de impeachment no Congresso, a então presidente Dilma Rousseff liberou R$ 1,4 bilhão nos primeiros dias de maio. Em apenas uns dias, Dilma destravou o mesmo valor que havia liberado nos quatro meses anteriores. Mas a sangria de dinheiro não deu resultado: mesmo com tanta grana rolando, o Senado abriu o processo de impeachment em 12 de maio.
Talvez por saber que nem sempre emenda garante apoio, ao assumir interinamente o lugar de Dilma, Temer seguiu com as liberações, mas em valores mais robustos. E no restante do mês de maio liberou outros R$ 2,4 bilhões para os parlamentares.
Agora sob ameaça de processo no Supremo, Temer segue com a velha filosofia do toma lá, dá cá. O toma lá são as emendas. O dá cá é o esperado empenho dos congressistas pela rejeição de um eventual pedido do Supremo para processar o presidente. O Supremo só poderá levar adiante um processo desse tipo se tiver autorização de dois terços da Câmara.
E aí fica tudo explicado: de 17 de maio a 13 de junho, o governo liberou R$ 486,4 milhões em restos a pagar (valores pendentes de outros anos) e mais R$ 467,5 milhões que já estavam empenhados (prontos para serem pagos) deste ano. A soma chega a R$ 953,6 milhões em valores liberados em menos de um mês.
Como ex-congressista, Temer sabe como funciona a cabeça de um parlamentar. E por isso tem pressa. Quer que o pedido do Supremo seja apreciado pela Câmara tão logo seja encaminhado pela Corte. Sabe que dinheiro liberado vai perdendo o valor quanto mais passa o tempo. Daí a ideia de suspender o recesso de julho.
Se ficar para agosto ou setembro, aí a liberação de maio e junho já não contará mais. Temer terá que liberar um novo pacote de emendas.
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